Por Prem Milan
Eu sempre me deparei com esta questão. Há mais de trinta anos. E minha posição sempre foi a favor do relacionamento FECHADO porque para mim possibilitava uma relação mais profunda. Permitia criar uma intimidade maior, uma parceira melhor, uma energia de construção. Trazia um relaxamento, um tranquilidade… Olha, foram várias vezes que essa questão veio à tona, com várias parceiras, e sempre no meu trabalho eu apoiava o relacionamento fechado. Quando batia uma história forte com alguém eu tinha que encarar… Mas para chegar a bater uma história eu tinha muitos e muitos desvios. Mas eu sempre acreditei em relacionamento fechado.
Hoje, 2014, depois de fazer uma profunda revisão da minha vida com todos os relacionamentos que vivi, chego à conclusão que durante mais de trinta anos, a respeito deste quesito eu fui um BUNDÃO! Porque na real, esse “relacionamento fechado”, que traz profundidade, que traz parceria, que traz relaxamento, na prática é pura mentira! Traz é desconfiança, pouca energia, pouca satisfação. A única tranquilidade que traz é infantil… Como uma criança que tem a chance de dormir com a mãe ou com o pai. Porque todos os relacionamentos fechados, acabam virando projeções de pai e mãe.
Na verdade, eu fui a favor do relacionamento fechado por medo da rejeição, medo de ser trocado, ciúme, posse! Mas mesmo assim, na minha vida aconteceu tudo isso: rejeição, ciúme, posse. E sou grato por tudo isso ter acontecido porque senão eu estaria morto. Então, a verdade mais profunda é que eu nunca pensei em função do amor, ou o que era melhor por amor. Sempre pensei em função das minhas limitações e meus dos meus medos. Para justificá-los, distorci relações, que aos pouco vão se tornando perversas, para justificar meu fechamento.
Na verdade, vão existir as relações abertas que acontecem por amor e ou por loucura. Mas até a loucura vem à tona e não fica escondida numa capa espiritualizada. Como eu sempre me incomodei com essa situação, muitas vezes eu me perguntava “Qual a diferença entre a minha relação e um casamento cristão?”. Juro que a diferença estava só na teoria, a embalagem que eu punha nos meus relacionamentos era mais bonita.
Depois de destruir amores por me reprimir, eu adotei para minha vida a seguinte condição: se me bateu, vou viver a história. E fiz isso! Sempre que bateu fui viver a história. Não foram muitas seguidas, mas aconteceu. E minhas parceiras idem. Eu tinha uma tese que era bem boa: se eu sentia atração, eu não falava, porque se eu falasse ia me encher de culpa e eu nunca tomaria um atitude a respeito do que realmente sentia. Então eu vivia a minha verdade e depois lidava com o bafo que dava. Já é uma forma um pouco aberta…
E isso posso te dizer: toda vez que eu encarei meu tesão com outras pessoas tive um up nos relacionamentos. Eu nunca me separei por ter ido viver outra história, ou por minha parceira ter ido viver outra história. A separações se deram sempre pela inanição causada por relacionamentos fechados.
Pensando cá com os meus botões agora que meus hormônios estão mais “cansados”, vejo que por pensar assim, devo ter desviado de muitas histórias interessantes. Pois o fechamento não permitia que muita gente chegasse. E eu também não percebia a energia que era jogada para mim. Esta é a válvula de segurança do relacionamento fechado. Cá pensando devo ter perdido muitas histórias interessantes, deixado de viver muitos amores e de me tornar um homem mais completo. Acho que minhas próprias histórias teriam sido mais suculentas do que foram.
Mesmo tendo uma relação fechada eu tinha uma vida muito dinâmica, estava sempre buscando. Eu sou um revolucionário, eu busco o novo! E isto me trouxe muitos riscos e muitas aventuras. Então minha perda foi pequena. Mas a grande maioria das pessoas na vida normal estão perdendo muito! E eu não quero ser melhor que você, quero te alertar para a importância disso tudo. Não sou excepcional. Nasci numa cidade muito pequena com muito mais preconceito do que você. Com um pouco de coragem, você pode ir muito mais longe do que eu fui.
A verdade é que e olhando para os relacionamentos fechados, vejo que mais do que satisfação, eles trazem tristeza, muita frustração. As pessoas se acomodam e entram num tédio, ficam reacionárias, chatas, manipuladoras e egoístas. Sempre fugindo de todo mundo. Sempre querendo programas à dois. Acaba que a coisa principal do casal é a janta. Cometem as maiores babaquices “em nome do amor”. Regridem “em nome do amor”. Se tornam contra tudo o que é livre. Se tornam carentes e dependentes. O poder pessoal, principalmente das mulheres, é totalmente destruído. É muito lixo “em nome do amor”. Ora, será que isso não deixou de ser amor há muito tempo?
Você olha para as pessoas e não vê nenhum brilho, nenhuma amor. Mas o papo é forte, e a principal palavra que rege essas relações é comodidade. Como diria Raul Seixas “eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”. Na real a relação fechada, o nome correto e justo é relação ESCRAVIZADA. E o nome real para relação aberta é relação LIVRE, porque você é livre. Você está aí com outra pessoa, por escolha e não por falta de opção, e não por medo.
Eu sei que existe a relação aberta babaca. O cara que não consegue amar, que está com alguém e sai transando com todas e acha que está numa relação aberta. Aí é só transar… o que não é ruim, mas o amor não rola! Relação livre é quando você ama mesmo e mesmo assim tem essa abertura.
Tem uma gurizada na Comunidade Osho Rachana que abriram suas relações. Na real, não abriram suas relações, tiraram as algemas, saíram da desconfiança no amor e estão confiança no amor. Porque eles estão com aquela pessoas por que querem. E aí se pintar outra história elas estão livres para escolher a partir de si mesmo, se querem vive-las ou não, pois não tem um parceiro ou parceira ameaçando, impedindo.
É óbvio que elas passam por conflitos. Mas estão nisso. Agora, se você está toda hora querendo caçar e ter outras histórias, acabe tua relação porque ela morreu! Mas deixar essa porta aberta para que se bater você possa viver, é confiar no amor, é confiar no taco. Isto é muito mais liberdade, muito mais amor do que ficar sendo “back de buceta” (back significa zagueiro em futebol), por favor… Se dê conta!!!
À esse povo eu digo “estou com vocês”. Pode baixar porrada, que a nossa consciência e o nosso amor não tem medo de reacionários! Nós estamos criando o novo! E o importante é que não seja uma competição, é importante que quando pintar uma história, que realmente você esteja sentindo, que vá viver. E que você não dê nenhuma pista, e que você nunca queira saber isso do seu parceiro, porque isso não interessa, para criar a verdadeira liberade. Isto é profundidade. Aí você vai trabalhar o seu ciúme de verdade! E pode ficar tranquilo, não vai ser uma chuva toda hora. Mas o fato de estar se sentindo livre muda totalmente a relação.
Você não precisa estar se cuidando, você não precisará armar defesas para que ninguém chegue em você. Você anda livre leve e solto. E vai ter muito mais energia para todas as outras coisas!
Todos condenam o casamento cristão. Todos os espiritualistas, sejam eles do osho, budistas, ou do cu fincado. Mas a verdade é uma só: acabam tendo uma relação cristã porque a posse, o ciúme continuam ali. Podem colocar sobrenomes lindos que vão desde profundidade, conexões da alma, vínculos de vida passada. Tudo é posse! Casamento cristão.
O início da liberdade começa na relação livre. Daqui a algum tempo você vai até se esquecer dessa palavra. Hoje em dia todas as relações são um problema. Porque o homem internamente está culpando a mulher pela sua frustração. E a mulher faz a mesma coisa com o homem.
Obrigado por vocês estarem tentando isso! Você estão trazendo o novo! Que bom! E tem muita gente que não quer tentar isso. Tudo bem! Você pode simplesmente olhar e encarar “cara, eu não consigo encarar isso”. É muito melhor do que tentar derrubar a liberdade dos outros. Se eu sou escravo, eu tenho que quebrar minhas correntes e não tentar acorrentar os outros para não ter nenhuma referência de liberdade.
Eu sei, vai dar muito pau isso. Mas que bom que estão tentando, estão se expondo. Vocês vão passar por dores, por raivas, por desesperos, mas vão crescer, vão se satisfazer e se tornar maduros. Vocês vão sentir o sabor de uma sexualidade profunda. Vão ter êxtases que a imensa maioria jamais sonhou. Vocês vão voar nas asas da liberdade. Vocês serão orgulho para seus filhos e netos, porque terão histórias lindas para contar.
Eu passei por muitas situações dessas e sou agradecido. Respeito o espaço de cada um. Mas de alto e bom tom, não diga que tem uma relação aberta. Diga que você tem uma relação LIVRE.
E que todos os caretas vão beijar a mão do padre!