Por Prem Milan
1968. Maio na França. O bicho pegando em todo o mundo. Grandes revoltas dos estudantes. Um ano muito significativo de transformações. Che Guevara bombando. Sonhava-se pra caramba! Muita cultura. Lia-se muito os clássicos de esquerda. Muita música, muito teatro, festivais porretas. Eis que em Garibaldi, na Serra Gaúcha, 15 moleques se ajoelhavam para entrar num túnel feito de tampas das embalagens das geladeiras, que depois se expandia numa sala de mais ou menos 4x4m, também feita de tampas, com altura de 1m. O telhado era ecológico já naquele tempo, revestido com palha, muita palha. O chão forrado com papelão e a gurizada toda a postos no seu lugar. Começava a sessão das 17h inspirada no catecismo, que eram as revistinhas feitas com desenhos. Ali se homenageava a mais gostosa da cidade… Tinha uma que era campeã. Puxa vida, era o sonho de nossos sonhos. Ela nunca imaginou a grandiosa homenagem que recebia quase toda semana no nosso templo tântrico.
E era um templo, porque era sagrado.
Tinham 5 ou 4 grupos na cidade. Um tocava fogo no QG do outro, destruía o QG do outro. A casinha da punheta ficou intacta durante 3 anos. Ninguém jamais sonhou em difamar esse templo!! E realmente era um templo. Mantido em sigilo total perante os olhos dos adultos e nossas famílias. Nem sob tortura trairíamos esse espaço. Belas recordações. E como a imaginação fluía…
Talvez você estranhe eu começar o texto falando assim. Sou grato à minha caminhada sexual na vida. Mais ainda ao tantra porque me trouxe muito prazer, uma alegria até então desconhecida, conhecimento, sabedoria e muito amor e coragem para desvendar a vida. O muito que eu criei na minha vida, se devem a essas experiências que aconteceram principalmente em um período de 7 meses em 1987. Aconteceram outros momentos depois, mas muito esporádicos.
Me causa uma indignação muito grande quando eu vejo esses grupos classificados como “tântricos” por ai. Na real, só alguém que não realizou essa experiência pode classificar os grupos que ensinam técnicas “masturbatórias” como tântricas. Esses trabalhos são pura masturbação. Em São Paulo está totalmente disseminado. Em Lisboa, Rio de Janeiro, vários lugares…
Neste mundo neurótico e louco, as pessoas preferem a masturbação, por isso a internet é cheia de filmes bagaceiros… É triste essa realidade. E esses trabalhos, que dizem trabalhar em prol da sexualidade, introduzem essa bagaceirice! E é muito mais fácil para um neurótico ir ao cabaré do que buscar uma relação de amor com pessoas do seu meio. Hoje, a masturbação é um caminho fácil para aliviar e consolidar a neurose. Vemos um monte de gente que ama muito pouco, que sente muito pouco, ávidos por fazerem grupos tântricos. Como se o tantra fosse uma solução, e não o resultado de um crescimento, de um amor.
Ora, no tantra, a regra principal é um amor e uma entrega profunda. Não é para gananciosos, ele é produto de amor e entrega. E não de técnicas de apertar o períneo, massagear partes da vagina, tipos de respiração, muito menos artefatos como perfumes, cremes, vinhos… O tantra é natural, não é uma criação das mentes. Quando você quer, pela mente, buscar o tantra acontece esse tipo de distorção. Todos estes grupos dos quais ouvi falar são uma chinelagem. Sim, o termo é exatamente esse! Porque é a mente querendo, não algo que brota de dentro.
Eu cheguei ao tantra sem ter a mínima ideia do que era. Nunca tinha ouvido falar. As coisas que aconteciam me deslumbravam. Me deixavam num estado absurdo! Minha cabeça não conseguia mais controlar as coisas e eu não fazia mais bobagem, pelo contrário, trabalhava com uma energia incrível, desvendava mistérios. Quinze ou vinte dias depois de mergulhar nisso, minha parceira me explicou o que era aquilo. E eu não sabia se estava sendo abençoado ou ficando louco. Pois estes momentos profundos têm uma linha muito tênue entre ser bem-aventurado e doido.
Note, meu objetivo não era esse. Sabe o que eu estava buscando? Depois de uma rejeição profunda, que me deixou num buraco enorme, eu buscava ser menos carente e dependente. E me trabalhei por 9 meses com meditações diárias, com renascimento 3 vezes por semana, dehipnoterapia e bioenergética intensamente. Mas meu objetivo era apenas me abrir, ser menos rígido, menos desesperado nas relações, parar de me sentir um cu. Eu queria virar uma pessoa mais legal. O tantra foi um presente que me aconteceu. Era como se o tantra tivesse me levado lá pro céu, me trazido de volta e por fim dito: “vai lá de volta e prepara uma boa base para segurar esse céu”. Eu nunca mais fui o mesmo.
Eu falo isso porque (nunca falei muito sobre isso) as pessoas estão poluindo o tantra, o distorcendo…
Tem um cara que se autodenomina professor tântrico. Eu chamo isso de piada!! Mas todos os gananciosos, todos os carentes, todos aqueles que gostariam de falar que tiveram uma experiência tântrica adoram esse tipo de coisa, pois aí poderão sentir-se superiores. O tantra não é nada disso, é de uma pureza incrível.
Portanto, nesse meio eu reinvindico, sim, à minha casinha da punheta, o status de um TEMPLO TÂNTRICO. Porque masturbação por masturbação, me parece que a casinha foi tão eficiente que acabou produzindo em um dos seus membros uma experiência tântrica.
Gente, o tantra precisa de inocência, não é determinado pelo ego. E o tantra não é apenas um ato sexual, é também uma concepção de vida, uma postura perante ela. É viver de um jeito mais natural, bem, mais profundo. Querer uma pequena parcela de um todo não é possível. O tantra é um conjunto! Um pedacinho só é pura masturbação e viagem de poder.
O tantra é um presente que acontece para aqueles que estão buscando a sua verdade, vivendo a vida, se envolvendo na sua busca e partilhando com as pessoas essa troca. Aí sim, o tantra naturalmente vai acontecer, e não para ter poder nem supremacia sobre os outros, e sim como deleite de uma consciência maior.
Ahh, me esqueci! Não se cobrava ingresso na casinha da punheta. Era por amor.